Notícias

“A Fenavinho foi uma bandeira que uniu a comunidade”

“A Fenavinho foi uma bandeira que uniu a comunidade”

 

Jornalista Itacyr Giacomello fala de sua relação com a Fenavinho, festa em que atuou trabalhando e divulgando

 

“Presidente, o senhor tem que olhar para baixo”, brinca o jornalista Itacyr Giacomello, ao relembrar quando cumprimentou o então chefe da nação, o bento-gonçalvense Ernesto Geisel, durante a abertura da III Fenavinho, em 1975.

As lembranças vão surgindo como flashes na memória deste que é uma espécie de porta-voz da Fenavinho, ao manusear seu vasto material a respeito da festa guardado em casa, parte dele armazenado há mais de meio século. São documentos, fotos, jornais, revistas e memorabilia que ajudam a contar a trajetória da festa.

Itacyr Luiz Giacomello, 80 anos, vem divulgando a Fenavinho, seja como integrante oficial da comissão da festa, seja como jornalista – ou até mesmo como atuante membro da comunidade –, antes mesmo de sua primeira edição, em 1967. Ele fazia parte da secretaria do Clube Ipiranga quando ocorreu a escolha do trio das soberanas da primeira festa, formado pela Imperatriz Sandra Guerra e as Damas de Honra Iegle Ghelen e Liane Mazzini. “Na época, o Clube Aliança estava em reforma e nós ajudamos a Comissão Social do baile a realizar a escolha. A divulgação da festa deslanchou com elas”, diz o também ex-vereador que, no exercício do cargo, solicitou estudos para viabilidade da criação de um Arquivo Histórico da festa, em 1985.

Em 1967, Giacomello era correspondente do icônico Diário de Notícias, de Porto Alegre, publicação que fez parte do conglomerado de mídia de Assis Chateaubriand, além de trabalhar na Cooperativa Vinícola Aurora – sua ligação com o setor data de ainda de mais cedo, quando atuou na Vinícola Riograndense. Foi convidado pelo próprio presidente da primeira Fenavinho, Moysés Michelon, a juntar-se aos bravos voluntários que realizaram a transformadora festa em Bento Gonçalves, motivo da primeira visita presidencial à cidade – o marechal Humberto de Alencar Castelo Branco – que nem ligação asfáltica com Porto Alegre tinha. Acabou nomeado coordenador da Comissão de Imprensa e Propaganda, cuja presidência ficara a cargo de Edgar Nunes, mas acabou fazendo mais do que isso: foi convocado a dar expediente no Escritório Central da Fenavinho, ajudando também na realização da festa.

É esse esforço comunitário, reforça Giacomello, um dos maiores legados da festa. “A Fenavinho foi uma bandeira que serviu para unir a comunidade num evento para marcar uma época brilhante de uma festa que se tornaria a grandeza do município”, destaca o jornalista.

Foi com a força coletiva de sua comunidade que a festa veio à tona. O pavilhão que deu origem ao Parque de Eventos foi construído para sediar a Fenavinho, sendo erguido rapidamente com o apoio do 1º Batalhão Ferroviário, do DAER e de abnegados agricultores – inicialmente, a ideia era construí-lo no campo municipal, próximo ao Fórum, mas o prefeito em exercício, o médico Ervalino Bozzetto, adquiriu as terras do Parque Fenavinho porque acreditava ser limitado o espaço inicialmente considerado.

Muitas são as histórias e as pessoas envolvidas por trás da Fenavinho. Giacomello gosta de pensar que a festa foi uma consequência de fatos históricos que acabaram desencadeando outra série de episódios inesquecíveis para a trajetória da cidade. Como primordial, cita a chegada dos imigrantes italianos. A conquista da expansão do ramal ferroviário de Carlos Barbosa/Garibaldi a Bento, em 1919 – principal razão da criação da Associação Comercial, em 1914, hoje o CIC- -BG –, que acelerou o desenvolvimento da cidade, é outro dos motivos. Neste contexto, também recorda as movimentações existentes para expor o potencial vitícola de Bento, em 1960, com a Exposição de Uvas e Produtos Coloniais, no Salão Paroquial da Igreja Cristo Rei, e a 1ª Festa da Vindima, no Centro.

O envolvimento de religiosos, dos irmãos maristas – de onde surgiu a ideia da Fenavinho, por meio da Associação dos Ex-Alunos –, da prefeitura e de entidades e associações foi vital na construção da festa que se tornaria a maior vitrine de Bento, impulsionando sua economia e dando visibilidade a outra de suas vocações além do cultivo da uva e da produção de vinho, a fabricação de móveis – e sendo vital no surgimento de diversas feiras como Movelsul, ExpoBento, Fimma e Fiema, entre outras. “A Fenavinho é a mãe das feiras”, opina Giacomello.

Por seu envolvimento com a festa, o jornalista é reticente em eleger uma Fenavinho como preferida. Entretanto, diz que a primeira, com o vinho encanado nas ruas da cidade, foi o marco inicial de tudo. Destaca ainda a terceira edição e a quinta, na qual ocupou o cargo de secretário executivo, em 1985. Na edição de 2000, a XI, lançou seu livro “Cidade Alta – Raízes de Um Povo – Memórias e Histórias”.

Mas em todas esteve presente, tanto divulgando também para outros veículos onde atuou, como B.G. Notícias, Gazeta da Serra, Correio do Povo e Jornal do Comércio, além do Semanário, onde está como colunista desde 1971, quanto participando efetivamente como membro oficial da Fenavinho. Uma verdadeira conexão com as causas da cidade. “Essa doação sempre existiu porque é algo que está dentro da gente”, explica. “Só temos a agradecer e parabenizar o CIC-BG pela iniciativa desse resgate histórico da Fenavinho”.